domingo, 3 de abril de 2011

Morte e vida fenecida

Quando foi que perdemos a beleza
Que na infância nos deu a natureza
Com o amor eterno toda a pureza?

Dentro de nós o sol vinha nascido
Em nossa alma a luz tinha crescido
Mas desalento veio envelhecido

Da morte na vida temos certeza
Antes da vida em nós ter florescido
Somos vazios cheios de dureza
Guardamos em nós a própria frieza

Impassível caminho perecido
De que nos serve tamanha leveza
Para seguir num dia amanhecido
Ao sol da meia-noite fenecido?

Débora Aligieri

Poema publicado na edição de abril da Revista Autor

Ph Thomaz Farkas

O realismo em Portugal surgiu com a consolidação do liberalismo, num período de estabilidade política e progresso material, em que o país mantinha um intercâmbio cultural com o resto da Europa como um de seus pares, ligando-se aos aos países europeus pela estrada de ferro. A poesia da época se desdobrou em quatro vertentes diversas ao longo do movimento: a poesia realista propriamente dita, a poesia do cotidiano, a poesia metafísica, e a poesia parnasiana. "Morte e vida fenecida", que segue o mesmo esquema de rimas de "Bien loin d'ici" de Charles Baudelaire, é um soneto invertido em versos decassílabos, elaborado nos moldes da poesia metafísica, caracterizada por indagações existenciais.