terça-feira, 27 de novembro de 2012

Metempsicose

"L'ame ne demeure qu'une seule fois dans un corps sensible;
au reste – un cheval, un chien, un homme même,
n'est que la ressemblance peu tangible de ces animaux".
(in "Metzengerstein", de Edgar Allan Poe)

Tradução livre: 
"A alma habita apenas uma vez um corpo sensível
Depois disso - um cavalo, um cachorro, mesmo um homem
Ela não passa de mera semelhança pouco tangível desses animais"






Sua carne voluptuosa roçando minhas nádegas 
Qual cavalo indomável
Penetra impiedosamente
E provoca-me com malícia
Tornando o orgasmo espasmo lacônico
Curto e violento!
Presença perene em minhas entranhas ...

Rosalina Marcondes



domingo, 25 de novembro de 2012

Consumidores de desigualdade


O fim do mundo começa hoje, daqui a 50 metros, daqui a 50 civis mortos pela Polícia Militar sob a acusação não comprovada de envolvimento com o PCC. Os números comparativos da violência na Capital de São Paulo entre 2011 e 2012 registram crescimento dos casos de homicídios, seja porque a Polícia escolhe na sorte (ou azar?) os participantes da facção criminosa, seja porque falseou os números do ano passado. Lembro que em 2011, enquanto o Governo do Estado de São Paulo alardeava a queda da violência, alguns jornais noticiavam também que os números então divulgados estavam maquiados, pois desconsideravam uma série de ocorrências que faziam os tais registros serem bem maiores. Esse é o típico caso do feitiço que virou contra o feiticeiro, e mesmo trocando os números, ou trocando o Secretário de Segurança, a violência e a desiguldade em São Paulo continuarão iguais: sempre enormes! O triste é que as pessoas só acreditam nisso se passar no Fantástico. Ontém presenciei uma batida policial na Rua da Consolação, em que 4 policiais revistavam maios ou menos umas 50 pessoas de uma vez. Coincidentemente, a grande maioria delas era negra. É a Black Friday da Polícia de São Paulo, festa da humilhação corporativa. E essa tal de black friday, inovação capitalista trazida dos states para o Brasil, não passa de mais uma desculpa, a exemplo do dia das mães, pais, crianças, avós, canários e etc, para empurrar a preços supostamente mais baixos produtos que as pessoas não precisam comprar. E os descontos são tão falseados quanto os números da violência em São Paulo de 2011. Tudo mentira! E a maioria dessas pessoas que fica feliz em aproveitar as tais "ofertas" pragueja contra o feriado da Consciência Negra, porque o Brasil seria um país miscigenado, de oportunidades iguais. Mas quando se trata de oferta de trabalho, é tudo bem diferente, basta verificar a predominância em quase todos os estados brasileiros de mulheres negras que trabalham como empregadas domésticas, segundo dados do IPEA e do IBGE, sendo que as domésticas negras ganham menos que as brancas e são menos registradas também. Nessa semana as trabalhadoras domésticas conquistaram mais direitos trabalhistas, originando uma manchete num jornal de Pernambuco onde se dizia que ficaria mais caro "ter" empregada. Conforme especialistas no assunto, aproximadamente 50 reais a menos em no bolso dos patrões e patroas, de onde sai muito mais para aproveitar a Black Friday. E se tem dia pra tudo, porque também não criar o dia do mensalão? Parece piada mas não é. Existe uma proposta nesse sentido na Câmara dos Deputados, para comemorar o resultado de um julgamento em que foi possível tripudiar sobre a fama de partido ético do PT. Agora tá tudo certo, não temos mesmo nenhum partido ético ou dotado de linha ideológica clara. Vamos comemorar! Não porque se julgou uma prática de corrupção deletéria à democracia, mas porque o PT ocupava o banco dos réus. Mas será que as práticas de corrupção de outros partidos também serão julgadas? Ou a tal teoria do domínio do fato foi alinhavada só para condenar José Dirceu? Condenado mesmo foi José Serra pelo PSDB, nocauteado pelos colegas de partido em programas de entrevistas, após a derrota para Fernando Haddad na disputa pela prefeitura de São Paulo. Tudo para preservar a imagem do partido. Procedimento tão deprezível quanto a compra de votos para a reeleição de Fernando Henrique em 1998. Tá vendo, até voto se compra. Aliás, esse é um produto bastante antigo no mercado, cujo valor, segundo a opinião pública, se modifica dependendo do território: se é nos Estados Unidos, é lindo! mas se é no Brasil, é um fardo que deveria se tornar facultativo. O voto é um direito, sendo ele facultativo ou obrigatório. Ponto! Mais uma vez, diferença. Mas agora temos um Presidente do STF negro, o único entre 11 Ministros, Joaquim Barbosa. Nas notícias sobre a posse, a parte mais importante do discurso foi cortada, porque feria de morte os interesses dos grandes empresários brasileiros, aqueles que conseguem empréstimos enormes do BNDES, e depois culpam a alta carga tributária brasileira pelo custo Brasil. Quem pensa que o Governo Executivo é o único responsável pelas mazelas de nosso país está enganado, porque por trás de cada mazela existe um empresário lucrando com isso. Com a desigualdade, com a black friday, com a felicidade da chamada classe "c" por poder consumir mais. A felicidade se compra em qualquer mercado, no seu nome escrito numa lata de coca-cola. Não entendo essa corrida à procura do nome da família inteira num refrigerante, porque eu corro dela. Isso é um cuspe na cara do consumidor: estamos fazendo você comprar um produto porque tem o seu nome, que nós usamos sem lhe pagar nenhum direito! Legal mesmo seria uma competição para ver qual nome seria o mais encontrado nas latinhas jogadas nas sarjetas: José (Serra, Dirceu), Marcos (Valério), Daniel (Dantas) ou Eike (Batista)? Neste caso, só as latinhas vão pra sarjeta mesmo, porque preferimos comprar coca-colas nomeadas a registrar nossas domésticas, porque a desigualdade leva as pessoas para serem revistadas nas ruas de São Paulo, daqui a 50 metros, daqui a 50 anos, daqui a 50 poiliciais militares (todos de baixo escalão, de milícias ou não) mortos...

Débora Aligieri

OBSESSIVA

Ouço obsessivamente a mesma música,
Amo obsessivamente a mesma pessoa,
E beijo sua boca obsessivamente,
Mordo seu corpo, engulo seus pêlos,
Como suas veias, mastigo seus lábios,
Degusto você por inteiro
Obsessivamente...
Penso em seus olhos em todo amanhecer,
Sinto sua pele cada vez que o lençol
Pousa sobre meu corpo.
Repito, obsessivamente, sons mudos
Vejo cores que só existem em minha mente
Cores obsessivas...
E me deito novamente, nua novamente.
Obsessiva...

Rosalina Marcondes


Foto: Eduardo Barrox

Para ouvir o fonograma "Obsessiva", clique no botão do poema, na Jam Session 6 (Jam Session Players - Portal Cronópios)

Celta Ceia

Sacanagem
É você me comer
no jantar
E não se servir
de sobremesa

Rosalina Marcondes


Imagem retirada do blog Da Malena

Black Friday da Polícia de São Paulo





domingo, 4 de novembro de 2012

Erro de calibragem

Desde que instalei o sensor da bomba há 5 meses, passei por muitas situações no momento da calibragem que me deram bastante dor de cabeça ou acarretaram a falha do sensor, quando não as duas coisas ao mesmo tempo. Vou listar aqui as 3 situações mais comuns, pelas quais passei, de erro de calibragem:

- Calibragem com hipoglicemia ou hiperglicemia: embora a minha querida amiga enfermeira que me passou as instruções sobre a utilização da bomba de insulina e do sensor tenha me orientado para não fazer a calibragem em situações de hipo ou hiperglicemia, teimosa que sou, resolvi testar a informação. Não dá mesmo! Sempre que calibrei o sensor em situações de hipoglicemia (abaixo de 70mg/dl), ele funcionava, mas o índice glicêmico intersticial ficava sempre bem abaixo do índice medido na ponta do dedo. Já no caso de hiperglicemia (acima de 180mg/dl), a bomba não aceita a informação e apresenta a mensagem "erro de calibragem". Ao inserir novamente o índice glicêmico de hiperglicemia, ela apresenta de novo a mensagem de erro, e em seguida "sensor com defeito", sendo necessária a troca do sensor. Certa vez, na primeira calibragem após a instalação do sensor, minha glicemia estava em 319 mg/dl. Inseri esta informação na calibragem. A bomba até aceitou, mas depois de um tempo, começou a indicar quedas e subidas bruscas de glicemia (num momento apresentava 89mg/dl com duas setas para baixo, e 5 minutos depois mostrava 200mg/dl com duas setas para cima). No manual da bomba existe uma informação dizendo que a calibragem pode ser feita quando a glicemia estiver entre 40mg/dl e 400 mg/dl. Este erro já foi apontado para a empresa e será retirado dos próximos manuais. A calibragem só fuciona mesmo dentro de um padrão de normalidade glicêmica (para diabéticos), ou seja, entre 70 mg/dl e 180mg/dl. Se no momento da calibragem o meu índice glicêmico está acima ou abaixo desses números, não faço a calibragem antes da correção: se é caso de hipo, faço a ingestão de carboidratos suficientes para a glicemia se normalizar, e no caso de hiper, faço o bolus de correção indicado pela bomba. Apenas depois de normalizada a glicemia, faço a calibragem;

- Perda de contato entre o sensor e o transmissor: após inserir o índice glicêmico da ponta do dedo na bomba para a calibragem, ela demora uns 20 minutos para fazer os cálculos do índice instersticial. Se nesses 20 minutos posteriores à inserção dos dados ocorre a perda de contato entre o sensor e o transmissor, a calibragem não funciona, e a bomba apresenta a mensagem "erro de calibragem", e pede nova inserção de dados ("medir gs agora"). Assim, logo após a calibragem, procuro evitar situações que façam a bomba ficar distante do sensor, como tomar banho, por exemplo, para evitar esse problema de calibragem:

- ISIG baixo: o ISIG (interstitial glucose value), que sempre aparece na tela "estado do sensor", é o número correspondente à quantidade de células que estão em contato com o sensor no momento.  Este número pode variar bastante, inclusive em função do tempo de instalação do sensor e do local da instalação. Isso não é um dado científico, mas observei que, sempre que o sensor se dobra dentro da pele, o isig cai vertiginosamente. Quando o número do isig está abaixo de 5, o índice glicêmico intersticial costuma apresentar alterações maiores, e nem sempre corresponde à situação real. Uma vez coloquei o sensor bem na altura da cintura e, como trabalho sentada, minha barriga dobrava justamente sobre o sensor, que não durou dois dias, pois no segundo já apresentava um isig baixíssimo, e no momento da calibragem, deu erro e falha do sensor. Ao retirar o sensor da pele, percebi que ele estava completamente dobrado, era quase um "L".Assim, prefiro instalar o sensor no braço (na região do tríceps), onde o sensor dificilmente se dobra por dentro da pele. Mesmo assim, algumas vezes, no último dia antes da troca do sensor, o isig começa a cair, e, quando fica abaixo de 5, a bomba não aceita a calibragem, sendo necessária a troca do sensor pouco antes de seu fim.